meia-noite e um...
um tanto de chuva lá fora
outro tanto aqui dentro
nesse quase abril
onde me fecho até setembro...

aprofundam-se os vincos
na face da saudade...
seu rosto envelhecido
guarda um sorriso antigo
(exposto em preto e branco)
num retrato, na parede do quarto...

regina ragazzi

fui lá fora olhar o outono
ouvir os cachorros que ladram
aguar os vasos de flores
procurar passarinhos nos galhos
olhar o céu...ah!!!...olhar o céu!!!
por tempo indeterminado...

Tudo porque hoje é SÁBADO!!!!

sê sábio...
capta o silêncio
que te leva o vento
escuta...

dorme o teu sono
não te preocupes com os meus olhos abertos
também estou sonhando...

clareasse o dia nesses teus olhos
e eu beberia neles uma nesga de sol
(suficiente para clarear os meus)
os meus olhos, o meu dia,
e trazer de volta um sonho dourado
caído (há muito) num abismo...

hoje me virei do avesso
e não consegui me desvirar...

palavras me atingem
silêncios me desgovernam
a noite me anula
por eu não saber ser...

Outono

... e porque tudo me assemelha, me espelha...
desde a primeira folha que nasce à última que cai...

não ousa quebrar 
o encanto desta dor
e transformá-la, outra vez
em amor...

enfim outono!!!
essa manhã amena
o verde mais verde, 
o vermelho... o amarelo
e o cinza...
enfim eu!!!
me encontrando
nesta paisagem que me espelha...

Quero pra mim essa quentura da palavra
que sai da alma até chegar à boca
Que ela ignore os caminhos frios e escuros 
(Caso ela os percorra)
E chegue a mim ainda desabrochando flores...

que gelo não derreteria com esse sol de meio-dia nos teus olhos??

para escrever um poema

da noite recolho esse silêncio

e um punhado de estrelas

para escrever um poema amanhã.

deixo o perfume

e o orvalho da flores,

esse pedaço de lua

que certamente inspira algum poeta

nesse momento.

levo um pouco de brisa também,

mas deixo o vento...

acho justo dividir os elementos!

mas não me roubem esse silêncio,

nem as estrelas, nem a brisa

prometo...

devolvo tudo amanhã 

até o meio-dia...

viagem...

mel
céu 
estrelas...

... e a minha língua a invadir teu mundo....

a parte...o todo...o tudo...

como dar conta de se descobrir?
quem entende esse mundo dentro de nós?
quem pode dizer do que perdemos
do que sentimos... do que vivemos...
nossa fala é cheia de profundas pausas
o que a gente diz são apenas fragmentos
de histórias
somos pedaços de filme cortado
e remendos feitos de sonhos
o que é real... o que é imaginário?
tudo pode ser de repente, ao contrário

ser pássaro..

queria tanto voar
e voou...
mais longe que 
onde imaginou alcançar
mais cedo do que esperava voar...

...e  quando fixo meus olhos no negrume do teu olhar
sinto-me vagar num céu de não existir...

enquanto gritam multidões

eu permaneço distante

olhando em outra direção

e também grito

mas meu grito só eu escuto

não somo, não subtraio

não multiplico, nem divido

só grito

(mudo)

despercebido...

andam cansadas essas mãos de agarrar vazios
andam pesadas, de tantos nadas...

tamanha saudade

mais uma  vez
aquela voz de não dizer
aqueles olhos de não ver...

coisas...

um rio

uma jangada

uma sombra

uma morada

uma árvore

uma estrada

uma terra

uma semente

um sonho

de repente ...

aos meus olhos
uma manhã perfeita de cinza
de neblina
de cores
de verde
de pássaro
borboletas... asas..
.meus passos
cabelo molhado
alma lavada...

é chegado o sol
as sombras se recolhem tímidas
por sobre as copas das árvores
não mais se expandem
a luz dourada vai preenchendo
todos os espaços
e todos os passos que
por ali passam...

e o caminho prossegue em seus traços...

05:00 da manhã
me perco em sonhos
neste céu de outono...

no quarto escuro
acende o pensamento.
onde apaga??

fantasmas...fantasmas...
de dia eu juro
que eles não existem...

carnaval:
cores - as do jardim
canto - dos passarinhos
é só folia ...

à margem ...

nas horas... vaga...

vagueia  solitária

perdeu a barca

não navegou

ficou só à margem

não teve coragem

e a barca zarpou...

céu...precipícios
chão ... escadas
pés...asas...

olhos d'água

lagoas...mágoas

mas só os olhos

coração... nada ...

onde passava um rio
agora nada mais passa
morreram os peixinhos
secaram as águas...

não sei os outros
mas eu prefiro a faca ao alfinete.
detestaria ficar toda furadinha...

desdobra-se até não poder mais
mas sempre fica uma dobra
que não lhe é capaz...

verso reverso

a palavra que emudece
a cor cinza sobre o azul
as cortadas asas do pássaro
o pesadelo sobreposto ao sonho
a face desfigurada do amor
o ódio... a mágoa...

passa a tarde 
e passo eu 
seguindo seus passos ..
juntas findamos o dia 
desvestindo-nos de sol ...

anoitecemos ...